Quando decidimos lançar os nossos Discos Desmaquilhantes Reutilizáveis, sabíamos que queríamos manter neles a nossa essência, já espelhada nos nossos cosméticos sólidos – produtos feitos em Portugal e de forma artesanal.
Por sermos de Torres Vedras, vimos na Associação INCLUIR+, uma associação local, o parceiro ideal para a criação destes produtos. Mas o que torna esta associação especial não é apenas o seu amor pelas artes manuais.
Para dar a conhecer ainda melhor este projeto, visitamos a Associação INCLUIR+ numa tarde de outono e demos voz às costureiras que dão vida aos nossos produtos.
Quando visitamos a associação, eram quatro as senhoras dedicadas a tempo inteiro aos Discos Desmaquilhantes NAUA. Enquanto caminhávamos pelas mesas repletas de tecidos, linhas e agulhas, havia muito mais do que apenas trabalho nas suas mãos; as rugas da idade são preenchidas por histórias do antigamente, dos hábitos que foram perdidos e até de anedotas que gostam de partilhar umas com as outras.
HISTÓRIA
Na Associação INCLUIR+, uma tarde normal tem trabalho, costura, artes manuais e muita conversa e companheirismo. Foi iniciada em 2014, de forma informal, com uma ideia de combater o isolamento social das pessoas já em idade de reforma em Torres Vedras. A ideia foi não só combater esse isolamento, mas também de acompanhar pessoas em grande risco de exclusão social, acolhendo-as neste espaço, e cultivando a sua participação cívica, cultural e um diálogo entre gerações.
“Esta inclusão foi pensada a partir de um conhecimento prévio de que estas senhoras pertencem a uma geração altamente capacitada ao nível da manufatura”, menciona Inês Salgado, Presidente da Direção da INCLUIR+. “Podíamos ter escolhido a culinária, a escultura ou a pintura; mas Portugal tem um património de manufatura tão vasto e tão rico que nós pensamos que esta seria a forma ideal de poder resgatar esses saberes e torná-los atrativos.”
Atualmente a INCLUIR+ tem cerca de 45 associados, sendo a sua maioria mulheres em idade de reforma com conhecimentos de corte e costura. O seu trabalho não é voluntário; é remunerado e, apesar disso, não existe uma obrigatoriedade de estarem no espaço comum todos os dias. O que existe é uma “vontade de pertencer a um grupo, de criar laços de amizade e de afeto, e uma rotina nova na vida destas pessoas”, diz Inês.
AS COSTUREIRAS
No meio de risos e histórias, uma coisa é clara: este não é apenas um trabalho. Todas se riem quando Carminho se levanta mil e uma vezes para atender o telefone (claramente, muito social) e ouvimos lá pelo meio algumas anedotas que Estela conta, oriundas da sua conta de Facebook. Este é um lugar de trabalho, mas também de conexão.
“Eu gosto de estar aqui pelos trabalhos em si, mas também pelo convívio. Para quem está fechado em casa, dentro de quatro paredes, só com o meu marido, também se torna um bocado chato”, diz Carminho, uma das quatro senhoras que produz os nossos Discos Desmaquilhantes. “É preciso um bocadinho de separação para agora, quando regressar, ser outra coisa mais amorosa. Vou com a ansiedade de ir ver o meu marido.”
O que todas as senhoras nos dizem reforça a ideia de quem procura a INCLUIR+ procura manter-se ocupada mas, acima de tudo, procura afeto e afastar-se da solidão. “É algo transversal a todos nós”, repara Inês.
Estela está com a INCLUIR+ já desde 2015 e, para si, a importância de estar num espaço como estes não pode ser medida. “Eu nem sei bem explicar. Faz-nos sentir ocupados, faz-nos sair de casa… Eu gosto muito de costurar, e se não fosse assim, estava em casa, ali sozinha.”
Maria Armanda encontrou a INCLUIR+ por acaso, ao passar na rua e ver alguns dos trabalhos manuais expostos na montra. Para si, estar aqui significa não estar sozinha. “Saímos da solidão da casa. Os meus netos vão para a escola, a minha neta vai trabalhar, e eu fico sozinha. Aqui partilho com as minhas colegas, e sou feliz aqui. Foi muito gratificante encontrar esta casa”.
Já Nina veio do Brasil para Portugal há alguns anos e, mais uma vez, o tema da solidão era o que mais a preocupava. “Eu morava num T0, parecia que estava dentro de uma caixa. Eu tive de sair e procurar. Passei aqui, vi a máquina de costura, vi as pessoas, e entrei”. Nina era costureira antes da idade da reforma, e ao entrar para a INCLUIR+, tornou-se na ‘costureira’ oficial, que passa os dias ao lado da máquina de costura.
Com diferentes níveis de conhecimento, existe uma grande entreajuda entre todas as senhoras, e existe também uma grande parte de ensino. Cada uma partilha com as restantes colegas os seus conhecimentos e saberes, e todas vão, aos poucos, aprendendo um bocadinho mais sobre as artes da manufatura.
PARCERIA COM A NAUA
“Parceiros como a NAUA são fantásticos,” diz Inês. “Aliás, a NAUA é um parceiro que nós temos aqui no nosso coração, porque nos dá oportunidade de levar o nosso trabalho para fora de Torres Vedras e que este seja conhecido por outros públicos. Para nós, e para as senhoras que trabalham neste projeto, é muito gratificante”.
É de coração cheio que ouvimos estas palavras, mas não quisemos ficar por aqui. Afinal, como é que as costureiras da INCLUIR+ veem a sua parceria com a NAUA?
“Somos nós a fazer, e sentimos muito orgulho. Gostamos muito de fazer este trabalho para vocês, só esperamos que vocês também gostem do nosso trabalho”, diz Carminho entre risos.
Entretanto a Nina tem levado os nossos Discos Desmaquilhantes consigo a conhecer novas fronteiras. “Eu levei os Discos para as minhas filhas no Brasil e elas gostaram. Uma delas tem de maquilhar-se para trabalhar, e disse ‘Mãe, é ótimo, é tão macio’!”
O QUE ACONTECE NA HORA DE FECHAR A PORTA, DEPOIS DE UM DIA DE TRABALHO E COMPANHEIRISMO?
No meio de Discos Desmaquilhantes, conversas sobre o antigamente e o hoje em dia, está na hora de fechar a porta e dar por encerrado mais um dia. Qual é o sentimento que fica nessa hora?
“É um sentimento de missão cumprida”, diz Inês Salgado. “É um sentimento de saber que aquele conjunto de pessoas esteve connosco durante uma tarde inteira e não esteve sozinha em casa, triste, alienada. Connosco, esteve ocupada a conviver, a contar anedotas e a trabalhar.”